Eu já te escrevi uma carta, e nela contei alguns dos meus medos quanto a gostar de alguém. Imagino que a essa altura você já deve conhecer alguns, talvez eu até tenha te dito, ou você pode ter percebido. Pode achá-los bobos, mas são eles que me transformam em quem sou.
Eu já te escrevi uma carta, e em algumas linhas continham sentimentos variados, dos bonitos até os feios. Isso porque num instante gostei de ter te conhecido, enquanto em outro sinto raiva de ter permitido que entrasse na minha vida.
Eu já te escrevi uma carta, e nela pontuei alguns motivos pelos quais não daríamos certo. E enquanto escrevia cada um deles me perguntava: Já lhe disse que sou uma pessoa carente de atenção e que ao mesmo tempo não gosta de atenção demais? Será que você conseguiu perceber que coloco ponto final numa frase apenas quando estou chateada com algo? Pôde sentir um pouco da minha raiva ao descobrir que odeio vácuos e assuntos terminados em meras risadas? Ou será que, pelo menos, se deu conta de que, segundo se passa na minha cabecinha, quando uma pessoa é a última a falar algo em um diálogo, a outra deve puxar assunto?
Eu já te escrevi uma carta, mas percebo que ela não consegue abordar tudo que queria falar. É como se ela estivesse completa e ao mesmo tempo faltasse palavras para preenche-la. Como se num dia tudo que acontecesse estivesse sendo narrado por ela, enquanto num outro momento ela não passasse de um mero encarte de supermercado com as promoções vencidas.
Eu já te escrevi uma carta, só que nunca irei lhe entregar. Você deve se perguntar porque, mas bem, existem ocasiões em que escrevo apenas para desabafar. Tirar de dentro de mim coisas que estão presas, transformando-as em letras miúdas, num pequeno caderno verde com linhas azuis.